domingo, 31 de outubro de 2010

Momento drama: o seguro

Para ler ouvindo.

Senta que lá vem história.

Quando você viaja à Europa, é obrigado a contratar um seguro de saúde. É uma das exigências para entrar nos países, mesmo se for a turismo e por menos de 3 meses. Nós contratamos o seguro através da agência de viagens, mas tempos depois descobri que o cartão de crédito já oferecia o serviço.

Pagamos cerca 100 dólares, recebemos uma folha com a cobertura do seguro e só. Viajamos belas e felizes sem nunca imaginar que precisaríamos acioná-lo um dia.

Ledo engano. Eu quebrei o pé e esperei uma semana para contar para minhas amigas que a dor estava insuportável. Meu pé parecia um pão de tão inchado. Antes disso, tínhamos comprado um creme para desinchar, o que não fez diferença nenhuma.

Quando resolvi dizer que não aguentava mais, apavorei a Ana e a Dai. Nós saímos do Bairro Gótico, em Barcelona, à procura de um hospital mais próximo. Enquanto isso, acionei o seguro e o atendente me pediu para esperar 50 minutos que ele retornaria a ligação.

Até lá já estávamos no maior hospital de Barcelona, o Hospital de Santa Creu i Sant Pau - com esse nome, devia ter imaginado. Mal sabia que minha novela estava prestes a começar. Chegando lá, fui atendida em um guichê para estrangeiros e a enfermeira falava inglês (eu não entendia nada do catalão). Ficamos aliviadas, pois ela nos explicou o procedimento e disse que o seguro reembolsaria a consulta depois, pois eles não trabalhavam de outra maneira.

Primeiro susto: a consulta de avaliação - na qual a médica olhou para o meu pé e disse: "vai ter que fazer radiografia" - custava mais de 300 euros. Como a enfermeira me garantiu que haveria reembolso, resolvi arriscar, afinal, a dor era muita e tínhamos mais duas semanas de viagem.

Quando estava na sala de espera, passada cerca de uma hora da minha ligação, o seguro retornou. Informei o que tinha feito e o atendente perguntou se eu já tinha sido atendida. Afirmei que sim. Recebi uma nova ligação de um atendente falando espanhol e perguntando onde eu estava.  Respondi e ele desligou. Tempos depois um colega dele, falando português, ligou novamente minutos para avisar o que eu teria que fazer para o reembolso.

Parecia tudo certo, mas as horas começaram a passar. Resumo: fiquei sete horas na sala de espera para fazer a radiografia. Os enfermeiros não me levavam a sério. Diziam só que um acidente havia acontecido e eu teria que esperar.  Enfim, sete horas se passaram e nada acontecia. Até que implorei para um enfermeiro ver quando seria a minha vez. Ele voltou e disse que esqueceram de mim (parte 5). Fiz a radiografia e fui atendida por duas médicas. Elas só falavam catalão e não entendiam absolutamente nada do que eu dizia. Entendi que meu pé estava com uma luxação. Pediram para que eu deitasse na maca e quando eu menos esperava, uma enfermeira imobilizou a minha perna até o joelho! Fiquei apavorada e feliz ao mesmo tempo, pois finalmente não sentiria mais dor.

No prognóstico havia uma observação de que eu deveria voltar uma semana depois ao médico para ver a minha situação. Os nossos planos eram ir para Paris. Criei aversão à Barcelona e passei dois dias parada no hostel. Só pensava em ir pra França.

Segundo capítulo: o retorno ao médico.
Ainda na Espanha, liguei para o seguro e informei a situação. Eles pediram que eu enviasse por e-mail o prognóstico. Enviei com uma foto minha para provar que eu estava com a perna imobilizada.

Já em Paris recebi a resposta; o seguro não cobriria a reconsulta por não se tratar de uma emergência. Aí, foi uma série de preocupações e transtornos. Liguei vários dias pedindo que reavaliassem o pedido. Ligamos para a agência em Blumenau e recebemos o número da central do seguro em Porto Alegre. A atendente ouviu a história toda e confirmou que o procedimento estava errado. Em minutos recebi uma ligação dizendo que a reconsulta foi aprovada, que eles não tinham entendido direito o caso.


Para saber onde ficava a clínica foi outra novela. O seguro trabalha com centrais espalhadas nos países da Europa. Em cada um deles, o atendente fala a língua de origem. Ou seja, me ligaram falando francês!!!!! Tive que pedir pro atendente brasileiro ligar para a central francesa e anotar o endereço.

Depois disso, estava bem feliz. Fomos ao médico. Entramos as três no consultório. O médico falava inglês uga-buga e só. Receitou um imobilizador para o tornozelo e não pediu radiografia, nem nada. Saindo do consultório, ele me chamou e disse: "you have to pay". E eu que achava que o seguro que eu contratei só fazia operações sem precisar pedir reembolso depois? Tolinha. Lá se foram mais 60 euros.

Fim da novela.
Gastei muito mais do que imaginava. Sai da Europa sem saber que meu pé estava quebrado e usei um imobilizador para o tornozelo desnecessariamente,  foi a parte de cima do meu pé que estava machucada. Além disso, tive que imobilizar a perna novamente durante 30 dias e estou fazendo fisioterapia. Tive que mandar todos os documentos originais para a seguradora e fiquei com cópias assinadas pela gerente da agência de Blumenau. Recebi o reembolso, mas gastei R$ 300 de roaming com as ligações da seguradora - o que não será reembolsado, pois o número que aparece na conta é o meu.

Moral da história:
- Seguro é importante, sim. Sugiro que você faça o do cartão, mas se informe direitinho como  funciona a cobertura e o que eles oferecem; 
- Exija os documentos com todas as cláusulas especificadas para poder cobrar depois. Se puder esperar o retorno do seguro quando acioná-lo, aguarde. Assim você evita pagar a consulta - ou não. É sempre uma surpresa - e ficar sem dinheiro para o resto da viagem;
- Se não entender a língua que o médico fala, exija que um amigo entre com você na consulta ou peça ajuda de alguém na sala de espera - no meu caso, uma velinha fofa assumiu minhas dores e brigou com os enfermeiros por eu ter esperado tanto;
- Guarde todos os gastos médicos que forem receitados nas consultas - receitas, cupons fiscais de remédio, gastos com material de imobilização - para exigir o reembolso depois. Tenha paciência, mas não deixe de acompanhar o andamento do processo, a avaliação demora cerca de 15 dias depois que você enviar os comprovantes para a seguradora;
- Se tiver que enviar os documentos originais para a seguradora, faça com que a sua agência assine todos com a frase "corresponde com o original". Fiz isso sob orientação do advogado. A seguradora não devolve os documentos, por isso, será uma garantia em caso de ter que entrar com uma ação na justiça para exigir o reembolso.

Prometo fazer um post sobre as dificuldades de andar com o pé imobilizado em Barcelona, Paris e Roma. Tive experiências únicas.

Um comentário: